Tuesday, December 06, 2005

Poesia

A vida fora da autografia.
A vida fora da biografia.
A vida fora da caligrafia.
A vida fora da discografia.
A vida fora da etnografia.
A vida fora da fotografia.
A vida fora da geografia.
A vida fora da holografia.
A vida fora da iconografia.
A vida fora da logografia.
A vida fora da monografia.
A vida fora da nomografia.
A vida fora da ortografia.
A vida fora da pornografia.
A vida fora da quirografia.
A vida fora da radiografia.
A vida fora da serigrafia.
A vida fora da telegrafia.
A vida fora da urografia.
A vida fora da videografia.
A vida fora da xilografia.
A vida fora da zoografia.
- A vida inde.


Arnaldo Antunes

Não fosse isso

não fosse isso
e era menos
não fosse tanto
e era quase


Paulo Leminski

A um Ausente

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.



Carlos D. de Andrade

Sunday, December 04, 2005

Há qualquer coisa na esfera dos Silêncios

As palavras que não dizes, mas tocas com os olhos
E as mãos e tudo, meu amor…
Há mistérios contundentes,
Que a tua presença ataca,
Como se ao mínimo revirar de pálpebras
Te escondesses dos ares e dos mares,
Que, de certeza, te atravessam inteiro,
Quando ouves músicas.

E eu gostava de te falar mais vezes,
De te contar as histórias tristes
Das pessoas a desaparecerem do meu colo,
Como que levadas pelas asas de um anjo infernal.
Pudesses tu compreender a dor, que não é a dos livros,
Mas a de ausências, que prolongam tempos
De vozes caladas…para sempre.
E explicar-te que, por vezes, por vezes
Há minutos que são roubados aos espaços de ti,
Como que levados para lá do livre som do teu sorriso…
(Sorris com os olhos, tantas vezes!)
E que se eu corro, não é por não querer ficar mais tempo,
É só porque não sei falar contigo,
Senão no silêncio calmo e saudável
Do teu olhar.


Maria Amaro
Dezembro de 2005