Saturday, May 20, 2006

Citação

"Die Poesie ist der Held der Philosophie. Die Philosophie erhebt die Poesie zum Grundsatz. Sie lehrt uns den Wert der Poesie kennen. Philosophie ist die Theorie der Poesie. Sie zeigt uns, was die Poesie sei, dass sie eins und alles sei".


A Poesia é o herói da Filosofia. A Filosofia eleva a Poesia ao nível do axioma. ela leva-nos a conhecer o valor da Poesia. A Filosofia é a teoria da poesia. Ela mostra-nos o que a Poesia é: que ela é um todo.


Novalis


Fragmentos de Novalis, selecção tradução e Desenhos de Rui Chaves, Assírio e Alvim,2000, pp. 53

Thursday, May 18, 2006

Extraterritorial

"da relação entre língua e alma
(obviamente colectiva a última)
há tratados tratantes até ao vómito

se tudo fosse como ficou dito
( a blasfémia científica será menor que a outra)
então eu acataria plácido o meu inferno

a minha alma ( egoísmo) não é a língua portuguesa
( embora em português me exprima e desespere)
mas uma amálgama de nativos erros

por comparação com padrão que todo lo manda
(excepto obviamente a transgressão que sou)
erros saborosos que infeliz - dificilmente ressuscitarei

assim ementes pródigos de pegados
ingeirados à bocanha dos jarões
como naseiquedigas e maroiços basta

(lá se foi o relâmpago isolado
onde fulgiu a ilha e logo o escuro
portuguêsmente me devolve à alma usual)

ah lembro-me de me proibirem o verbo abaniar
tão expressivo dizer atirar para algures
o impróprio objecto isso é menos ua alma

et puis un jour j´ai lu l´histoire
de la Chèvre de Monsieur Seguin
et puis le matin le loup la mangea

agora ando a ler só notas de rodapé
que em português-inglês já são de pé de página
onde muito apreendo da corrupção anímica

onde se explica que morrer frizado em enregelar de vez
e que o sinó é filho factual do tempero açoriano
onde neve não há nem frizas que se prezem

nem comida encanada, nem draivas de bâses
nem bossas de camelos nem de outros
nem lá os talafones servem para chamar alguém

chamo a isto uma breve amostragem
da alma ( se ela é língua)às postas
é pouco rentável no mercado do saber"

José Martins Garcia, Invocação a um Poeta e Outros Poemas, AH, SREC, 1984.

Tuesday, May 16, 2006

Da Nutrição Cultural



"A Literatura pode ser tudo o que quiserem, veneno, afrodísiaco, também pão, com manteiga, e se possível caviar, para não cheirar a neo-realismo, vinho, de preferência, bilhete para Pasárgada,passaporte para o impossível tudo menos chata. (...) Há uma gastronomia da cultura. Uma higiene alimentar da cultura cujo preceito é o seguinte: não comas o que te sabe mal. Porque o saber bem ou mal são indícios certos da bondade ou da nocividade do alimento. Vejo por aí muito hepático da cultura que massacra a figadeira com petisqueiras que lhe não calham ao organismo. Vejo também muito cozinheiro graduado em panelas críticas que, (é sabido que o cozinheiro vive na perpétua náusea das iguarias que manipula) dá a comer o que não come. (...) Convenhamos porém que uma pessoa alegremente enfadada em resultado de uma nutrição mental adequada ao seu apreço pelos soporíferos, sempre é mais suportável do que o bilioso da cultura sorvida por disciplina didáctica. Os rostos traem. Percebe-se que o indíviduo anda de braço dado, vai ao cinema e dorme com o livro que não ama. Mas é casado com a cultura, respeitabílissima situação que o inscreve na lista dos eleitores dos autores recomendáveis.
Onde quero chegar? A uma hominização da cultura. Um tempo que se presta a um sem número de manipulações filosóficas mas que aqui adquire o sentido real da força do espírito reiterada pela força institiva do que mais convém ao homem, com mais exactidão a cada um.
De contrário, teremos uma cultura de papagaios, e é a que temos como cansativamente nos elucida a linguagem dos relógios de repetição crítico-ensaísticos, acertados pelo último ovo posto pelas galinhas pensantes do "lá fora"."


Excertos de Da Nutrição Cultural da autoria de Natália Correia. Texto incluído na obra A Estrela de Cada Um, páginas 115-117.